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Joana

um mundo cheio de histórias para contar

Joana

um mundo cheio de histórias para contar

23
Abr17

NA ESTANTE | Uma viagem pelo mundo dos livros

Joana Santos
No dia em que se assinalam anos da morte de Miguel de Cervantes, escritor espanhol que faleceu em 1616, comemora-se o Dia Mundial do Livro. A data foi escolhida não só como forma de homenagear o autor da conhecida obra Dom Quixote, mas também como forma de relembrar as obras de William Shakespeare, já que foi também esta a data da morte do dramaturgo inglês, segundo o calendário gregoriano. Neste dia, são muitas a celebrações por todo o mundo, que relembram o quanto um simples conjunto de folhas de papel pode estar recheado de histórias que carregam mensagens preciosas e permitem que todos nós viagemos no tempo e nos recriemos, recriando também o mundo à nossa volta. Também a blogosfera decidiu celebrar e, a pedido da escritora e blogger Sofia Costa Lima, do blogue A Sofia World, muitas outras bloggers decidiram partilhar nas suas páginas os cinco livros que mais as marcaram. A convite da Sofia, também eu venho aqui confessar a minha paixão pelo mundo das letras. Desde que me conheço que vivo rodeada de livros: de ficção ou os técnicos, leio tudo. Quando era mais nova, bastava que a minha mãe me desse um livro para as mãos que eu ficava quieta e calada, a dar asas à imaginação. Ainda hoje é assim: dêem-me um livro e um chá e eu fico horas perdida nos enredos literários. Escolher os cincos livros que mais me marcaram é uma tarefa dificíl, especialmente porque, muitas vezes, cada livro têm um valor sentimental maior pela pessoa que me deu ou recomendou o título ou o autor. Gosto sobretudo de livros que passem uma mensagem forte, seja porque a história passa-se numa realidade completamente diferente da minha, seja porque consegue tocar-me o coração. Ou uma combinação das duas. Estas são as minhas escolhas.

 

Eu, Malala de Malala Yousafzai

 

Eu, Malala, ou em inglês I Am Malala, conta a história real de Malala Yousafzai, uma menina nascida no Paquistão, que viu a sua vida posta em perigo por lutar pela igualdade de direitos humanos no seu país. Com apenas 10 anos, Malala presenciou a forte ocupação talibã da região do Paquistão onde vivia e assistiu ao massacre humano que lhe levou amigos e família. No entanto, sem nunca baixar os braços, e convicta de que devia lutar por aqueles que acredita serem os valores básicos de dignidade humana, Malala fez frente a muitas regras impostas pelos talibãs. Por exemplo, no Paquistão, as meninas eram proíbidas de frequentar a escola, mas Malala lutou pela sua educação e pela educação de muitas outras raparigas da sua idade. E tudo isto de forma pacífica: Malala lutou pela paz. Hoje, depois de uma bala quase lhe tirar a vida, a rapariga vive no Reino Unido, onde continua a promover os direitos das mulheres em todo o mundo e é a pessoa mais nova de sempre a receber o Prémio Nobel da Paz. Li este livro no verão de 2015, e mudei completamente a minha perspectiva em relação à luta pelos direitos das mulheres. Como diz Malala, um livro e uma caneta são o suficiente para mudar o mundo. Por isso, como ela, acredito que a mudança assenta na educação. A mudança não passa pela guerra, pelo grito, pelas revoltas, por tentar chocar o mundo com atitudes pouco educadas. A mudança passa pelo respeito e, sobretudo, pelo amor. Lutar por melhores condições humanas passa por isso: amar o próximo. Todo e não só aquele que nos trata bem e nos abre portas. 

 

“Let us pick up our books and our pens,” I said. “They are our most powerful weapons. One child, one teacher, one book and one pen can change the world.” 

 

Into The Wild de Jon Krakauer

 

O livro, publicado em 1996 por Jon Krakauer, conta a história de Christopher McCandless, um jovem americano que, após terminar a universidade e finalizar o percurso ditado pelos seus pais, decide vender todos os seus bens e partir numa aventura que lhe irá custar a vida. Christopher McCandless viajou à boleia por toda a América do Norte, sob o nome de Alexander Supertramp, para que ninguém o localizasse, e morreu no Alaska, vítima de envenenamento, por ter consumido uma planta tóxica sem saber. Esta é uma história real, que foi descoberta por Krakauer, que decidiu seguir os passos de Christopher McCandless, recriando a sua história em livro e, mais tarde, em filme. Into The Wild é um livro que leio vezes e vezes sem conta. Li-o primeiro por sugestão da minha melhor amiga e, mais tarde, em busca de inspiração. A verdade é que o livro carrega uma história poderosa, de revolta para com a sociedade, de desejo pela Mãe Natureza. O livro lembra-nos que o mais importante não é a quatidade de dinheiro que possuímos na conta bancária, que título temos na sociedade ou o número de quartos que a nossa casa tem, mas sim os momentos simples, como um nascer do sol nas montanhas e um banho nas águas puras de um rio. Ainda que Chris não tenha sobrevivido, isso não diminui a verdade da sua história e a quantidade de corações que ele já inspirou prova isso mesmo.

 

"Happiness is only real when shared."

 

1984 de George Orwell

 

Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é um livro que, apesar de ter sido escrito em 1948 e publicado no ano seguinte, continua muito (e cada vez mais) actual. O livro mostra-nos, através da história de Winston, os perigos de vivermos numa sociedade totalitária, em que o Estado tem total poder sobre todos os domínios da nossa vida, tanto pública quanto privada. Aqui, o Partido tem como objectivo apenas estar no poder e, através do olho do Grande Irmão, que governa o país e a todos vigia, manter-se no poder. Não é, e o próprio Orwell o deixou claro, um ataque a um partido político específico daquela altura, mas sim uma forma de deixar claro os métodos menos correctos usados pelo comunismo e pelo fascismo para controlar uma sociedade. Não costumo gostar especialmente de livros com teor político, mas este deixou-me arrepiada. Como pode um livro, publicado há mais de 60 anos, continuar tão actual? Como pode um livro de outro tempo, continuar a ser um livro que nos mostra para onde estamos a caminhar? A história é cíclica e George Orwell faz o favor de relembrar a todos nós desse mesmo facto. 

 


“War is peace. 

Freedom is slavery. 

Ignorance is strength.” 


 

Memorial do Convento de José Saramago

 

São poucas as pessoas com quem falo que adoram o Memorial do Convento tanto quanto eu gosto dele. Li este livro ainda durante o ensino secundário, para a disciplina de Português A (ainda tem este nome?), e voltei a relê-lo umas três vezes depois disso. Para mim, José Saramago é um dos melhores escritores de todo o sempre, pela sua magnífica capacidade de contar histórias, misturando a realidade histórica com a ficção. Memorial do Convento marcou-me não só pela sua sátira ao contexto histórico que Portugal vivia (e que hoje, ao ler-se, ainda é tão actual), mas também pela maravilhosa história de amor de Baltazar e Blimunda. Há tanto simbolismo nesta história de amor, como a relação entre o Sol e a Lua, pois Baltazar era o sol (porque via na luz) e Blimunda a Lua (porque via na escuridão, via as almas, os interiores, através de um dom). Baltazar e Blimunda são, assim, um só. Nesta história há magia, há jogos de poder e há quem lhes faça frente. Nesta história há História e misticismo, bruxas e deuses. Nesta história há mais do que aquilo que se vê à luz das palavras e sobretudo foi isso que me fez gostar tanto dela.

 

“não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas de olharam, olharem-se era a casa de ambos.” 

 

As Velas Ardem Até Ao Fim de Sándor Márai

 

Este livro marcou-me não pela história em si, embora ela também seja tocante, mas pela forma como me fez desejar escrever um livro. Sándor Márai escreve maravilhosamente bem: brinca com as palavras, dá-lhes sentimento, junta-as para atingir o nosso coração. Também eu sonho escrever assim. As Velas Ardem Até Ao Fim conta a história de dois homens, outrora amigos inseparáveis, que, depois de quarenta sem se verem, voltam a reunir-se, num castelo na Hungria, para jantar e falar sobre a vida, a amizade, o amor, o desamor, a traição e segredos que se guardam para sempre. Mais do que consumir o livro, ao lê-lo, Sándor Márai, faz-nos pensar nos nossos valores pessoais e reflectir sobre eles. Para mim, este é um dos livros que guardarei para sempre no meu coração. 

 


"Do you also believe that what gives our lives their meaning is the passion that suddenly invades us heart, soul, and body, and burns in us forever, no matter what else happens in our lives? And that if we have experienced this much, then perhaps we haven’t lived in vain? Is passion so deep and terrible and magnificent and inhuman?"


Com amor,

Joana

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