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Joana

um mundo cheio de histórias para contar

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06
Fev17

As pessoas que não são nossas

Joana Santos

Acredito que todos aqueles que se cruzam connosco, ao longo desta nossa vida, aparecem com um propósito e ficam exactamente o tempo necessário para nos ensinar uma lição ou para nos levar até ao próximo patamar do nosso caminho. Há quem fique para sempre e há quem apenas nos acompanhe durante breves segundos, instantes onde trocamos olhares que falam sem voz. Seja como for, mais cedo ou mais tarde, descobrimos o propósito de cada pessoa, o porquê de ela ter aparecido - mais ou menos de surpresa. Demorou até que me apercebesse disso: há coisas que, provavelmente, só nos damos conta de que são como são com o passar dos anos. Já chorei muito por ver alguém partir, desaparecer da minha vida sem deixar qualquer rasto. Por vezes, a tristeza era tão grande que tentava a todo o custo voltar atrás no tempo, impedindo a pessoa de ir embora. Por causa disso, sei que levei muita gente à exaustão. A verdade, é que o apego e a dependência eram de tal modo fortes que, acreditava eu, não conseguiria sobreviver sem determinada presença no meu dia-a-dia. Um dia, depois de muitas lágrimas e de um coração constantemente em sofrimento, com medo de perder mais alguém, dei-me conta de que quanto mais forçava a presença de alguém na minha vida, mais sozinha me sentia, menos longe chegava, menos feliz estava. Lembro-me exactamente do momento em que, perdida nestes pensamentos, me propus a um desafio. Aconteceu durante uma viagem de barco entre o Barreiro e Lisboa, bem cedo, antes das aulas. Estava no final do primeiro semestre do primeiro ano da faculdade e sentia que tinha perdido todos os meus amigos, um namorado de quase três anos e, acompanhando a minha mudança de cidade, até a minha identidade tinha ido pelo cano abaixo. Mas, afinal, que desafio foi este? Simples: em apenas 25 minutos, a duração da travessia do Tejo, fiz uma lista de todas as pessoas que tinham passado pela minha vida, que eu achava que tinha perdido, e, em vez de as ver realmente como uma perda, escrevi à frente do nome de cada uma todas as coisas boas que trouxeram à minha vida. Fi-lo intuitivamente: não pensei que este pequeno desafio me levasse tão longe. Depois disso, foi mais fácil aceitar a partida de cada uma delas. Diria mesmo que - reconheço agora - foi nessa altura que perdoei muitas delas e me perdoei a mim também. Demorou até interiorizar os ensinamentos que esse dia me trouxe: foram precisas muitas mais decepções e lágrimas, muitas aulas de yoga para retirar o peso de cima dos ombros, muitas meditações em que a minha garganta se ressentia por todas as palavras que tinham ficado por dizer. Foi preciso uma viagem para um país estrangeiro. Sentir-me sozinha e perceber que a vida é um conjunto de surpresas felizes. Foi preciso, talvez até, chegar aqui. Ao momento presente. Ao momento em que escrevo estas palavras. Talvez ainda não tenha entendido completamente o significado que esse dia teve para mim. Talvez precise ainda de muitas mais listas, cheios de nomes de vidas que se cruzam na minha. Talvez seja uma apredizagem constante. Mas fica cada vez mais fácil: fica mais fácil quando percebemos que as pessoas não são nossas. Quando compreendemos as mensagem que cada uma delas nos traz. Quando olhamos para o passado e descobrimos que, sem elas, nao estaríamos aqui, mas que, ainda com elas, também não tínhamos chegado. Hoje, já não choro. Mas ainda dói quando me dou conta de que o tempo não volta para trás. Mas será que queria realmente que voltasse? Sei que não. Sei que todos os que saíram não deixaram de fazer parte de mim. Sei que carrego comigo um pedacinho de cada ensinamento por eles deixado. E sei que é porque uns partem que outros chegam, para abrir novas janelas dentro de mim e me dar a conhecer novos tons de cores que antes não conseguia ver. Por isso, agradeço: aos que foram, aos que ficam, aos que chegam e àqueles que ainda hão-de chegar. Porque a vida não traz nem leva nada que não estamos preparados para receber ou deixar ir. Porque nada acontece por acaso. 

Com amor,
Joana


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